domingo, 5 de julho de 2009

Hermético

"Você é tão reservado".

A frase veio com tom de reprovação, como que proferida em hora e local indevidos, como que embasada num julgamento, num juízo de valor. Quase equivalente a um "você é tão HERMÉTICO". O sol das 17 horas banhava os degraus de um amarelo aconchegante, cálido, mas que naquele momento destoou completamente e pareceu até repulsivo. Toc toc toc, faziam os tênis e os sapatos de salto. Balbuciei uma explicação que não saiu. Não há por que explicar-se, não há como fazê-lo; simplesmente é e pronto. Não vejo problemas em analisar as linhas da mão, as veias saltadas, as rugas dos outros, os motoristas em outros carros, os pássaros em suas árvores; não vejo problemas em pensar, pensar e pensar imergindo num fluxo tão grande de palavras e coisas que só me resta o silêncio para aquietar tudo isso. Não vejo por que não contemplar os toc-tocs nesses degraus banhados d'ouro, não vejo por que não olhar para trás e pensar "puxa, o sol das 17h é tão bonito", depois virar para frente e pensar que o silêncio é tão cheio de ideias. Que há de errado em ser hermético?, eu sugeriria como resposta.

"Você é tão reservado".

Um comentário:

ana rita disse...

belo, especialmente pelas escadas banhadas d'ouro.