domingo, 30 de setembro de 2007

Dois poemas inquietos sobre capital

Funcionalidade

O céu laranja
O chão róseo
Gotas de orvalho pregadas no vidro
Arames de bicicletas estalando fino
Folhas raspandos secas a calçada
A funcionária conferiu:
Brasília não abrira o elevador pela manhã.



Suícidio planejado (ou a modernidade de cara rachada)

Na segunda-feira,
pontualmente no momento de pico do trânsito,
Brasília escalou um arranha-céu
(que nem arranhava tanto assim, mas culpa do Niemeyer, não minha)
Escalou e entrou na sala pela janela.
"Como assim?" "Você vai acabar com o sistema de ar condicionado"
Mas Brasília é inquieta, senhores!
E de braços abertos esperou a eletricidade acabar,
E pulou no vão do elevador,
E voou sorridente.
Até rachar vermelha no chão de concreto.
Quanta poeira!

4 comentários:

L. L. disse...

sutil e perturbador. adorei.

Tay disse...

o primeiro ficou até bom.

pit disse...

gosto quando você escreve sem doce, rita.

não entendo a publicação de dois títulos de uma só vez.
talvez a poeira vermelha do ar tenha me atrapalhado um pouco.

culpe a niemeyer, não a mim.

ana rita disse...

Publiquei dois juntos porque tavam engavetados e na hora da limpeza veio com clipes e tudo mais...

ps: obrigada pela sutileza dona Pit