domingo, 30 de setembro de 2007

Seios

19 olhos eram por um todo obscuridade. Fitei cada um. Eu falava, lembro disso. Eu falava, mas falava em pensamento. Gritava até. Mas era só movimento cerebral.
Gatunos. Eu me imaginava em close-up, novela das 20h, em sua cena final, audiência criminosa. Merda, falei. Movimento labial, daqueles quase sensuais de tão perfeitos + audíveis + compreensíveis.
Proava todas as palavras. Elas faziam um leito quieto de tão quieto. Eu adentrava por esse rio, rio denso, riso forte da mata, perceptiva - ao certo- , do meu silêncio. Eu era raso. Bastasse mergulhar em mim, saia em 10 milésimos de segundos por sobre meu tendão.
Meus músculos retraiam-se. Pingava mares e sofria com o lamento de uma lágrima indecisa em dunas daquele penar todo.
(Há, por bem da nossa retraida vergonha d'alma, caminhos neuronais que nos conduzem além de paradigmas como esses. E eu, por total desespero, segui por ali. Vi meu pai. Vi bolos de aniversários; snoopys, batmans, 5 anos, cachos, careca, moicano, choro, riso, 13 anos, 15 anos.)Voltei: éramos 20. 20 corações em martelos incansáveis. Como eu ouvia aquilo? Não sentia cheiro de ninguém mais na sala. Não eram corações e sim a sineta anunciante do intervalo. Sentei sobre a mesa. Não estava mais só. Loira, seios que traduziam uma ardência pré-adolescente, disse algo e eu ouvi o que eu queria. Minha mão recostou sua pele e a quentura aliviou meus olhos. A mão dela desliza toda a minha consciência. Dizia como carinhos de mãe, estou aqui, não fica assim, tudo vai ficar melhor. Eu não desgrudava de sua boca. Meus olhos a beijavam e eu fazia da minha retina um piston cretino. Pra cima, pra cima, eu pedia. Pra baixo, pra baixo, ela dizia com o movimento dos lábios. Grande jogo, pensei. Ela foi pra cadeira, abriu seu fichário, colocou seus óculos. Realizava, a partir de então, todos os meus fascínios pornográficos. Perfeito: o professor intrigado, a aluna pedindo réquiem. Fui até seu pescoço, senti cheiros de muitos. Estava toda a sala recomposta. Riram de mim, os meninos. Enojaram-se as meninas. A loira não tinha seios para minhas mãos. Tateava ridiculamente o vazio à frente deles. Sou patético, pensei. Patético, repeti. Os meninos zombariam mais a partir desse momento. Cheguei minha mão para o calor. Adorava seios pequenos.

7 comentários:

ana rita disse...

Gostei mais dos seus textos anteriores. Esse tem alguns errinhos ortogr�ficos, creio que sejam da digita�o apressada (� sempre bom massagear mais as teclas).
Al�m disso os par�grafos est�o um tanto longos e se perdem deixando as cenas um tanto confusas e cansativas.
Fora isso a tem�tica � bem interessante e o desfecho � de um lirismo delicioso.
ps: clich�s s�o f�ceis e tentadores como brigadeiro de anivers�rio, mas n�o s�o t�o gostosos quanto

yuri disse...

dicionário de acordes:

zobariam = zombariam
secundos = segundos

tocar em Si.
em 4 compassos.

obrigado, ana rita.

Anônimo disse...

excitante antes do pessoal entrar na sala.

pit disse...

é, as pessoas não deveria entrar nas salas das outras assim

e yuri, identifico-me com os erros quaisquer erros
de digitação inclusive.

L. L. disse...

adoro esse seu jeito solto de escrever. você brinca com as frases, com a rigidez da lógica. é encantador.

Anônimo disse...

eu aprendi com a convivência. descobri sua sensacionalidade.

Tay disse...

identifico-me
com seus erros-acertos.

"dicionário de acordes"
sensacional.