segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Dois coelhos

Eu era sortudo. Laura era linda, pensei, enquanto dentro do carro que ia guiando em direção à casa dela. Adorava o sexo dela. A gente se beijava e eu sempre a encurralava na parede, levantando-a, em seguida, pela bunda pálida e forçando-a em seus quadris contra os meus. Mas ela já não me apertava assim com o cóccix. Antes de pegar o carro, tomei um banho pensando nisso. Faltava um quarteirão para a casa dela, daquelas típicas de baixada fluminense, cor de rosa português com ladrilho em losango de São Jorge, um pouco abaixo do telhado. Laura tinha pedido para antes de viajarmos que eu levasse o Max, que não era meu filho, não vou com crianças. Era o poodle alemão dela, maior do que os de madame, que vivia se coçando dentro de casa e Laura nunca o enxotava. Max era o xodó dela. Dizia, rindo, que éramos os dois galegos da vida dela. Também, ela não queria mais, havia espaço, logo havia espaço preenchido. Era assim desde a nossa primeira vez em que ela tinha no quarto uns objetos que acabaram por ficar empoeirados desde então. Você, presente do céu, ela gemia. Max era herança de uma tia que o ganhou antes de conferir o calor à sete palmos. E era um porre quando perto de Laura. E feio quando ela resolvia tosá-lo. Porra, pensei, Laura não está em casa e não vejo o Max pelo quintal. Deve ter dormido nos fundos e não o levarei para o canil. Pet Shop, ela me corrigia com riso de canto. Rindo, mandava ela se foder e nós riamos juntos, comigo ainda dizendo que era coisa de veado. Já batia na porta com o punho vermelho. Laura atendeu. Bate mais forte, ela disse, alisando com a palma a porta de cima a baixo. Vofê é mai gosso que ela, dizia ao mesmo tempo que lambia a madeira. Abre, Laura, me dá logo o Max, falei forte quase sendo interrompido pelo bate-pronto dela, Eu te dou. Abre logo essa merda, Laura. Não exclamei. Minha sobrancelha arqueara. Eu apostaria um rim que ela estava lambendo os lábios e roçando a bunda na maçaneta. Tirei a Lugger do cinto e apenas um Parabellum fez cair ao chão uma pancada dupla. Atirei embaixo da maçaneta. Abri a porta e um negro de bigode ralo, com a camisa no meio do abdómen estava ao lado dela. Filad'maputa, lamuriei. Max surgiu com orelhas caídas ao meu encontro. Mirei a nove na testa dele e ele me olhou com cara de querer viver cabeludo. Tudo bem. Peguei trânsito leve e ele gostou de ir balançando as orelhas pela janela do carro. Ele com cabelo. Eu com meu rim. E dois coelhos com sono. Parabellum sangue bom.

10 comentários:

Flávio A disse...

que susto! achei que vc ia matar o cachorro. huahauhauhaua
otimo texto!

pit disse...

ê, flávio!
só você pode matar os pobres animaizinhos indefesos, né?
hahahaha

tô pensando desde já em alguma coisinha bem indefesa pra matar também...
hahahaha

tá, parei

Anônimo disse...

pitie, flávio

poodles, pobres criaturas?

Anônimo disse...

hi, yuri!
i really try to get it on portuguese but i'm so bad!
your english version is great. very very nice web of chases on text.
nice to meet ya, kisses a lol.
see'a.

ana rita disse...

Não sei yuri, gosto do enredo dos seus textos, mas a narrativa "as vezes fica bem confusa.
E sim, preferi bem mais esse texto qeu o outro
ps: Sinceramente, não tenho pena de poodles, nem os acho criaturinhas indefesas...

Anônimo disse...

tem aquela coisa né? de fechar a camisa até o alto pra se ter o orgasmo da vã(n)(-)glória. e sinceramente, eu prefiro acreditar em algumas visões cínicas. daquelas cujo esforço são sêmens estéreis.
existe, ainda, - e hão de haver ao sempre - a marginalidade do desprezo, à periferia e/ou o submundo do inverso. E consta, em algumas vontades próprias, a idéia de permanecer assim: só querer o nascimento de um elo. verde, azul, prisma, algodão, não interessa. Desejo um forte.

Anônimo disse...

gostei muito.

pit disse...

depois a malévola, devoradora de corações vivos e odiadora da exixtência sou eu...

pobres poodles.

Anônimo disse...

Nao conseguir parar de ler um texto do começo ao final é uma proeza de poucos escritores. Parabens, Yuri.

Anônimo disse...

Pu-ta-que-o-pa-riu!!!!
Que inveja!