segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

dois em um

Pretérito imperfeito de asa de mariposa


Tô me guardando pra quando...


ela pensou três vezes antes de cantar. se guardava mesmo?
não guardava porque não queria, não conseguia,
não guardava, mas velava
corpo são, alma sã
uma desordem gramatical de pensamentos

quando as mariposas estacam as asas emperra a poesia
encaixou o latrilho solto na parede da cozinha

chão frio, corpo quente
o mundo desabando devagarinho em papel picado
a cidade invadida pelos pés descalços e as poças mal ditas
não tinha decorado oração nenhuma para essas horas
cuspiu na mão e meteu na cara
cara lavada, alma lavada

não importava se ainda era carnaval
naquele instante ela amava o mundo
só naquele instante

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A gente é ser de desejo


Ela pegou a palavra na estante, roçou entre os dedos
- Não existe nada mais belo que a linguagem!
A palavra sorriu.
- Tudo cabe todo aqui.
Ela falou circunstância, tempo, fogo e a palavra crepitou
- A gente é isso.
Num surto entre o ingênuo e o anedótico, ela jogou a palavra no chão.
- Os cacos da palavra são palavras
Doída a palavra gritou uma onomatopéia. E o som da palavra cortava mais que o caco. Nesse hora um mundo novo caiu da boca da menina

4 comentários:

ana rita disse...

Esses dois textos eu desenterrei dia desses, tirei a poeira e resolvi expôr. São textos distintos mais de experiências comuns, então arresolvi botar tudo no mesmo caldo para ver que tempero que dá.

yuri disse...

o ritmo tá ótimo. a mim, só encomoda as metáforas com "gramática" e etc. pessoal, mesmo. canso, pulmão fraco, sabe como é.

e a idéia de sentido inverso, porém igual, me agrada muito no post. sempre que puder, poste duas coisas distintas, mas iguais.

pit disse...

senti aqui alguns jogos com semântica.
adoro isso, acho melhor que sinestesia pura e simples.

quanto a dois textos juntos, não sei...
não é a mesma crítica de antes, mas eu ainda trago restrições...
preciso de respostas, senhora autora!

ana rita disse...

a senhora autora anda com a mente carente de idéia. Tô republicando uns velhos guardados pra vê se ouriço os neurônios. Gosto das sinestesias demais da conta, gosto dos jogos semânticos mais ainda, mas acho que não sei brincar tão direitinho com eles, sinto um cheiro de clichê tão forte...