Acordou pensando em pensar na vida, a desorganização a estava matando. Era preciso balancear as coisas, separar e colocar em caixas, etiquetar, eliminar os excessos. Seria um trabalho e tanto. Ela tinha bastante bagunça naqueles armários. Paixões, desilusões misturadas com orgulho, prepotência, indignação, impotência, decepção. Era difícil saber o que era cada coisa naquela mixórdia.
Quando abriu a primeira porta teve medo. Tudo aquilo era ela. Pior, tudo aquilo era o que mais amava, o que mais odiava e o que escondia. Era tudo o que conhecia. Fechou depressa a porta, apavorada. Não era capaz de enfrentar aquele mundo que ela mesma construíra.
Não era, mas tinha de ser, o medo a estava paralisando e a paralisia incomodava bastante. Resolveu ir adiante.Foi em frente ignorando os temores. Jogou muita coisa fora e não quis olhar para trás.
Organizou os espaços restantes, arrumou os guardados. Descobriu que tinha de fato um gosto duvidoso, era apaixonada pelo incerto, embora tivesse muito medo. Outra coisa: tinha atração por precipícios, por abismos e precisava urgentemente se jogar.
Serviu-se de seu melhor vinho e assim mesmo, descabelada como estava, foi atrás de um novo amor. Provavelmente cairia em outro buraco sem fundo, se descabelaria mais e mais antes de morrer, mas tinha ainda muitas vidas e resolveu gastar mais essa.
Que fosse o que fosse.
Mais uma vez.
quinta-feira, 31 de julho de 2008
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6 comentários:
acho que dessa vez eu fui só eu.
espero que alguém além da ana rita, com quem eu sempre conto, apresente cíticas sinceras.
a minha crítica sincera é que vc poderia ter terminado ali no "resolveu gastar mais essa", ia ser um impacto tão grande, mas eu gostei, pit, eu me identifiquei com esse texto, sabe? acho que é uma coisa que eu escreveria, assim. é o tipo de descrição de momento que eu gosto de fazer, uma personagem cheia de conflitos que descobre um meio de catarse e decide tomar uma decisão totalmente nova. *abraça*
terminaria junto com o flávio. gastar mais essa, esse último suspiro pareceu que alguém esqueceu de desligar a câmera.
Sabe tem certas metáforas meio óbvias que me incomodam um pouco. Agora mixórdia foi fantástico! Boa palavra no meio da bagunça das caixas.
e bagunça não é ruim, descrever o caos bem, caríssima, é uma arte.
porra, eu sou sincero. Caralho!
a minha crítica sincera é: eu gostei e me identifiquei completamente.
piiiiiiiiiiiiit.
se tu foi só tu, então tu descreve teus abismos com uma beleza mais que bonita.
gostei, gostei muito.
precisando de jogar também.
um beijo. :*
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