domingo, 17 de agosto de 2008

Poeira

Astácia largou a fina flor do dia e foi fazer chá. Começava naquela hora uma fome bruta invadindo sem piedade as pernas. Ligou o rádio no volume máximo. "These are the songs I wanna sing". Um ardor inesperado lhe assomou o peito e ela apertou com força a barra da saia. "I will sing it every time and I will sing". As violetas estavam tão mais roxas que o de sempre e ela teve uma vontade de comer a terra dos vasinhos. "Esta é a canção que eu vou ouvir, esta é a canção que eu vou cantar"

Os dedos tremiam e as unhas iam se rachando. Ela nunca imaginou que conseguiria. Os nervos, os nervos foram parando de existir devagarinho e a música foi se diluindo numa imensidão. Ela estava mesmo, estava mesmo, só precisava de uma brisa. Meia brisa bastava. Os músculos já iam se desencontrando dos ossos. Soprou um vento seco de agosto. E ela se foi. Foi como sempre queria ter ido: se desfazendo no ar.

11 comentários:

pit disse...

um típico da ana rita, percebe-se na primeira linha.

bom como sempre, se é que palavra de fã conta...

Flávio A disse...

ah, uma prosa :)
gostei muitão também!

Anônimo disse...

Olá!
Possuo um zine que circula em Florianópolis, que conta com textos, poesias e artes diversas de, em sua maioria universitários. Achei muito interessante algumas poesias desse blog - ainda não consegui ler todas -, que fecham bastante com o foco da revista.

Meu interesse é publicá-las, mas quero saber se vocês topam, ou autorizam.
A revista é na base do xerox (mas de muito bom gosto) e chama-se CHOQUE ANAL - Artística e Subcultural.
Vocês são de Brasília, é isso?

Aguardo resposta: lua.olsen@hotmail.com

Abraços!

Unknown disse...

Astácia que era mulher de verdade.

ana rita disse...

Gente, sobre o convite do coleguinha. Acho que poderíamos propor uma sessão cacoracao no fanzine com textos nossos e o endereço do blog. Quem topa?

Unknown disse...

topado

pit disse...

eu vou mandar um e-mail pra ele pra iniciar as conversações então, amigos

Flávio A disse...

eu também topo, mas pede pra ele pegar prosas também senão um texto meu nunca irá para a fanzine. hahahahaha! brincadeira.

ana rita disse...

pede depois pra ele mandar uma versão digitalizada por e-mail ou serve aquela antiga carta muito bonita

Anônimo disse...

Poeira, poeira, levantou poeira
eu quero ouvir mais uma vez.

bsh disse...

Gostei muito desta prosa. Viva e emocionante.

http://desabafos-solitarios.blogspot.com/